Bento de Jesus Caraça, talentoso matemático e professor universitário, desde muito cedo que se entregou ao ensino – com apenas 18 anos fez parte do conselho administrativo da Universidade Popular Portuguesa, instalada na Padaria do Povo, no bairro de Campo de Ourique (à Luis Derouet).
Não muito longe, na transversal Rua Coelho da Rocha, o poeta Fernando Pessoa, encostado a uma cómoda, escrevera sobre Caraça: “Ele era um camponês/Que andava preso em liberdade pela cidade”.
Nascida no princípio do século XX, em 1904, por proposta do Rei D. Carlos – os vestígios desta ligação com a realeza ainda hoje existem no relógio e no cofre oferecidos pelo monarca, em exposição no interior da casa –, a Padaria do Povo foi fundada para fabricar pão mais barato às freguesias de Santa Isabel e Campolide (Santo Condestável só seria fundada em 1959).
Mas também, paralelamente, para albergar um espírito vivo de crítica política e difusão cultural, marca da Cooperativa ao longo destes mais de 100 anos.
Hoje os tempos são outros e das lutas clandestinas as suas salas passaram a dar abrigo a atividades mais lúdicas, como a prática de tai chi chuan, exposições e teatro.
São 492 cooperadores e sete elementos na direção: a adesão é sujeita a apreciação e tem de ser proposta.
Em 1919, foi fundada, por António Ferreira de Macedo e Bento de Jesus Caraça, a Universidade Popular – começou por ocupar umas salas da Cooperativa “A Padaria do Povo”.
Primeiro foram cedidas e, depois de 1924, passou a ser inquilina da Padaria.